terça-feira, 14 de junho de 2011

Investimento luso em Angola chega através da Holanda

O investimento luso domina no sector não petrolífero angolano, interesse que nem a crise abalou. Mas hoje tem outras portas de entrada: Holanda e paraísos fiscais.


Portugal detém a maior quota do investimento privado estrangeiro em Angola no sector não petrolífero. Uma tendência que, segundo os dados da Agência Nacional para o Investimento Privado (ANIP), se mantém desde 2006 e que faz deste «parceiro estratégico um importante apoio à diversificação da economia angolana». 

Nos últimos cinco anos, o investimento português somou mais de 1,4 mil milhões de dólares, mais de 65% do investimento privado com origem nos países estratégicos para Angola (Brasil, EUA e China). O montante do investimento luso só é ultrapassado pelo angolano (2,5 mil milhões). 

Mesmo a crise que abalou o Mundo há dois anos, ou os atrasos nos pagamentos às empresas por parte do Estado, não abalaram significativamente o investimento privado luso. As maiores quebras de interesse, entre 2009 e 2010, foram registadas pelo Brasil (92%), EUA (52%) e a China (0,45%). 

Os dados da ANIP mostram que África do Sul, Holanda, Ilhas Virgens Britânicas e Maurícias têm, desde 2006, vindo a apostar consistentemente em Angola. Num primeiro olhar, o país neste que mais surpreende é a Holanda. 

Segundo fontes do mercado ouvidas pelo SOL, o crescimento do investimento com origem neste país, assim como nos paraísos fiscais, tem uma explicação: algum investimento angolano e muito do português está a ser realizado através daqueles países. É o caso da participação da portuguesa ZON na angolana ZAP, realizada através de uma empresa sediada na Holanda. Segundo as mesmas fontes, os investimentos da Sonae em Angola também vão ser realizados através da Holanda.

Investimento em alta 

A tendência de crescimento do investimento sul-africano é encarada com mais naturalidade, pois «há um grande interesse da África do Sul na região».

O investimento privado em Angola cresceu cerca de 67,5% em 2010, atingindo 2,4 mil milhões de dólares, um ‘salto’ face ao ano anterior, em que rondou 1,4 mil milhões.

Em termos de emprego, o investimento privado criou, entre 2008 e 2010, cerca de 86 mil postos de trabalho directos, dos quais apenas 12.620 são estrangeiros. 

Por geografias, a província de Luanda lidera o destino do investimento (36,24% do total em 2010). Benguela surge em segundo (17,75%), seguida da província do Kwanza Sul (8,06%) e do Bengo (1,27%). Em 2010, Kuando Kubango e Moxico não captaram qualquer investimento privado, mas a situação pode mudar este ano. Ainda esta semana, uma missão empresarial portuguesa encontrou-se durante dois dias com as autoridades provinciais para analisar as potencialidades da região. 

Por sectores, a indústria transformadora absorveu 31,84% do investimento, enquanto o comércio por grosso e retalho e a reparação automóvel foram o destino de 20,71%. Seguem-se a construção (10,8%), transportes e comunicações (10,8%) e actividades imobiliárias (7,16%). O sector primário pouco interessou aos investidores: só 1,22% do investimento se dirigiu à agricultura, produção animal e silvicultura. O Estado ainda é o ‘motor’ do sector, situação que vai perdurar durante alguns anos. A pesca absorveu 3,09% do investimento privado em 2010.


Por: francisco.kalenga@sol.pt 

Sem comentários:

Enviar um comentário