segunda-feira, 6 de junho de 2011

Elevados preços de alimentos e energia podem causar novos conflitos em África

A persistência dos elevados preços de produtos  alimentares de primeira necessidade, mas também da energia, pode originar  novos focos de conflito e de instabilidade no continente africano, alerta  o relatório Banco Africano de Desenvolvimento (BAD). 

O ano passado ficou marcado pelo "recrudescimento dos protestos civis",  numa "demonstração tanto de dificuldades económicas como de outras injustiças  sentidas por muitas populações africanas", refere o relatório "Perspetivas  Económicas em África 2011", divulgado hoje por ocasião da assembleia-geral  anual do BAD, até dia 10 em Lisboa. 
"Com o aumento dos preços alimentares e da energia (que representam  uma larga fatia dos cabazes básicos em África), que começou na segunda metade  de 2010 e que ainda não abrandou, existe um grande potencial para a existência,  em 2011, de mais protestos públicos", alerta o BAD. 
O relatório dá como exemplo o caso de Moçambique, cuja capital, em setembro  de 2010, foi palco de uma "grande agitação popular contra o aumento do custo  de vida". Esta manifestação resultou em confrontos entre populares e a polícia  que se saldaram em várias mortes e centenas de feridos e detidos. 
O BAD ressalva, contudo, que se é certo que as "difíceis condições de  vida" podem aumentar a contestação política no continente em 2011, na base  desses protestos estarão "também outros problemas como as altas taxas de  desemprego jovem e a falta de liberdade política". 
O relatório também alerta para o impacto da subida dos preços alimentares  e do petróleo na inflação do continente, que em 2011 deverá subir novamente:  "A taxa de inflação média de África que desceu para 7,7 por cento em 2010  deverá subir marginalmente para os 8,4 por cento em 2011, e depois recuar  para 7,4 por cento em 2012". 
De acordo com o BAD, a maioria dos 51 países africanos analisados "registará  taxas de inflação entre os dois e 5,5 por cento em 2011 e 2012", mas países  como Angola serão mais afetados. "Na Etiópia, Sudão, Egito e Angola, espera-se  que a inflação permaneça acima dos 10 por cento", prevê. 
Depois de terem atingido o pico, na segunda metade de 2008, os preços  internacionais dos alimentos baixaram, mas rapidamente voltaram a registar  aumentos significativos em 2009 e, sobretudo, no decorrer de 2010, com destaque  para o trigo e o milho. 
O crescimento da procura global, as dificuldades de fornecimento, condições  climatéricas adversas, o forte aumento do preço do petróleo (de 30 dólares  por barril, em dezembro de 2008, para os cerca de 110 dólares atuais), mas  também a "especulação dos mercados financeiros" são, segundo o BAD, algumas  das causas que "estão na origem" dessa subida. 
O relatório lembra que dos 77 países do mundo, considerados de baixo  rendimento e com défice alimentar -- os "mais vulneráveis à subida dos preços  alimentares" -- 43 são do continente africano, que é"um importador líquido  de alimentos". 
Com uma crise alimentar e preços elevados, o BAD destaca a importância  de os governos africanos"protegerem os grupos vulneráveis da fome através  de subsídios direcionados", em vez de disponibilizarem subvenções para alimentos  e combustíveis ao grosso da população. É também preciso investir mais na  produtividade do setor agrícola, acrescenta. 
Fonte; SIC

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